A sede da prefeitura de Santa Luzia, em Minas Gerais, já abrigou um famoso matadouro e frigorífico, a Frigoríficos Minas Gerais S/A (FRIMISA). O município foi escolhido com base em alguns fatores: a proximidade com um grande mercado consumidor (região de Belo Horizonte); a infraestrutura de transportes rodoviários e ferroviários; a disposição de um espaço para receber o frigorífico, cujo porte demandaria uma configuração técnica considerável para o processamento industrial. Em 1959 foram iniciadas as atividades de abate na recém-construída estrutura, localizada no Distrito Industrial de Carreira Comprida.
A Frimisa foi constituída pelo governo de estado a fim de promover o desenvolvimento do setor de industrialização de carnes em Minas Gerais, buscando explorar de forma mais eficiente os recursos existentes, e as potencialidades da pecuária de corte, visto que a produtividade desse setor era baixa. Anteriormente, funcionava da seguinte maneira: as etapas da produção da carne, desde a cria e engorda até o abate, eram espalhadas por vários pontos do estado; um dos agravantes desse fator era a distância em que os animais ficavam para com os pontos de embarque nas estações ferroviárias, tendo que fazer longas marchas, que chegavam a 6 dias, o que junto ao embarque do rebanho vivo ocasionava altos índices de mortalidade. Assim, buscou-se a implantação de frigoríficos nas próprias zonas produtoras, tirando o máximo aproveitamento do animal: não somente a carne seria direcionada para a indústria, mas também os ossos, o couro, os miúdos, a gordura.
A Frimisa foi um empreendimento de grande porte: o seu conjunto industrial era composto pelo matadouro, o frigorífico, os edifícios auxiliares, e a infraestrutura adicional. O matadouro abrangia 4 pavimentos de um edifício; o frigorífico, por sua vez, abrangia 5 pavimentos de outro edifício, e ambos eram ligados entre si. Os edifícios auxiliares compreendiam a casa das caldeiras, a casa das máquinas, a carpintaria, a oficina mecânica, o almoxarifado, a garagem, o prédio auxiliar da indústria, o galpão de charque, o posto de manutenção dos veículos, o posto de desinfecção dos vagões, a casa de guarda, os depósitos de combustíveis, os vestiários e lavanderia, as pocilgas, o restaurante. A infraestrutura auxiliar abrangia a linha férrea com os respectivos desvios ferroviários. A localidade do bairro, hoje denominado Frimisa, acolheu vários operários do frigorífico com suas respectivas famílias. Quanto à questão da enorme quantidade de água que o funcionamento da estrutura requeria, foi sanada através de um sistema de captação e tratamento que era abastecido no Rio das Velhas; apesar disso, os despejos eram transferidos para o mesmo Rio das Velhas, sendo que o único tratamento dispensado era o sistema de decantação do esgoto industrial, para separação da gordura.
O planejamento, com os primeiros traçados oficiais para a implantação do Frimisa, começou por volta de 1947, em que surgiu a Comissão de Estudos da Rede de Frigoríficos e o poder executivo foi autorizado a promover fomentos à produção, por meio do Decreto-Lei nº 2153/1947. Em 1953 deu-se a criação legal da empresa, através do Decreto nº 3981/1953. Em 1952 as obras de instalação foram iniciadas em Carreira Comprida- Santa Luzia. Alguns anos depois, em 1955, foram interrompidas pelo primeiro incêndio nas dependências do Frimisa, sendo retomadas até a sua efetivação no ano de 1959. Em 1960 houve a inauguração do conjunto industrial; a cerimônia contou com a presença do governador Bias Fortes, Tancredo Neves e o bispo de Belo Horizonte.
O período mais produtivo do empreendimento foi aquele compreendido entre os anos de 1963 a 1972, quando os números de rezes abatidas equivaliam a mais de 20.000 toneladas por ano. A partir de 1977 começou o agravamento da situação financeira da Frimisa. Para se ter idéia, em 1983 a margem de lucro não era suficiente para cobrir nem os custos operacionais da empresa. Dentre os fatores que acarretaram esse declínio estavam o alto custo operacional, as falhas de dimensionamento do projeto, o comprometimento de equipamentos, o abastecimento de água provindo de um local altamente poluído, as mudanças no setor de industrialização de carnes no país, tanto na demanda dos produtos quanto na oferta e no grau de competitividade, além da proliferação de subchefias e suspeitas de desvios de recursos na empresa. Por fim, a diminuição da escala de produção atingiu níveis mínimos, e em 1988 uma avaliação técnica das condições de funcionamento do Frimisa concluiu que o empreendimento era inviável economicamente, sendo a desativação a única alternativa restante.
O espaço da Frimisa ficou votado ao abandono por 10 anos. Ao final da década de 90, a prefeitura municipal de Santa Luzia foi transferida para as instalações do antigo frigorífico, no distrito de Carreira Comprida. No ano de 2015 outro incêndio no local teve lugar, e só foi controlado depois de 6 dias de combate às chamas. Esse acontecimento, somado a outros fatores, comprometeu em partes a estrutura dos prédios. Em 2019, no entanto, foi feito o inventário do conjunto do antigo frigorífico, que passou a ser protegido com base no art. 216 de nossa Constituição Federal.
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