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Taquaraçu de Baixo e o Teatro São Francisco

Teatro rural São Francisco em Santa Luzia, logo após sua restauração em 2007. Fonte: http://www.panoramio.com. Fotógrafo: Beto Mateus.

A Fazenda que deu origem ao distrito de Taquaraçu de Baixo1, em Santa Luzia, surgiu a partir da concessão de uma sesmaria na região no ano de 1746. Estas terras situavam-se às margens do rio Taquaraçu, afluente do rio das Velhas.

Desde 1772 a posse das terras desta sesmaria foi transmitida para Manoel Gonçalves Giraldes, um português que veio tentar a sorte nas Minas Gerais. O local escolhido para construção da sede da fazenda foi justamente na proximidade de onde os rios Taquaraçu e das Velhas se encontravam. Terminada a edificação da sede, a família de Manoel Gonçalves veio de Portugal, trazendo uma imagem de São Francisco de Assis para ser o padroeiro destas terras. Foi edificada uma capela em dedicação ao santo padroeiro na localidade.

Em 1807, uma grande enchente destruiu as edificações da fazenda, incluindo a capela de São Francisco, restando apenas a parte superior do casarão sede onde todos, senhores e escravos, passaram a se abrigar. A imagem de São Francisco foi enviada para o povoado de Lagoa Santa até que uma nova capela pudesse ser construída.

Somente em 1907 uma nova igreja foi erguida em terras doadas para este fim. A imagem de São Francisco finalmente voltou à região, onde eram realizados festejos em sua homenagem. Em 1972 foi edificada a terceira capela que ainda hoje permanece.

Localizado a 25 km do centro de Santa Luzia, o distrito de Taquaraçu de Baixo guarda um tesouro – o Teatro São Francisco2, cuja trajetória inicia-se na década de 1950.

Em julho de 1954, o jovem Raimundo Nonato da Costa deixava o seminário na capital Belo Horizonte e voltava a viver na região de Santa Luzia. Neste mesmo ano, Raimundo foi convidado para lecionar aulas de música em Taquaraçu de Baixo, com o objetivo de formar uma banda na localidade. Porém, Du, como era chamado o seminarista Raimundo, decidiu montar uma peça de teatro a ser encenada pela própria comunidade. A peça recebeu o nome de “Mundo Velho sem Quintino” e estreou em 28 de agosto de 1954.

Imagem interna do Teatro São Francisco.Nela aparecem o forro de esteira, os equipamentos
de iluminação, os bancos de madeira e as portas de entrada. Fotógrafo: Marcos Ikeda, maio 2008.

Imagem interna do Teatro São Francisco, destacando os bancos de madeira. 
Fotógrafo: Marcos Ikeda, maio 2008.

O local utilizado para a apresentação do espetáculo teatro foi bastante inusitado – o curral da fazenda, mas lançou a semente que levaria à edificação do Teatro São Francisco na comunidade. Segundo o Padre Raimundo Nonato Costa, o Du3:
A plateia se posicionou na cocheira, o compartimento dos bezerros recebeu o palco. Os assentos para a platéia eram de tábuas escoradas em tijolo ou bancos levados pelos moradores do lugarejo. Os camarins eram de lençóis, o pano do palco (cortina) improvisado, o ponto (o que “sopra” o texto) bem disfarçado. O recinto ficou superlotado com gente assentada nas ripas do curral e te indivíduos em pé… O curioso local (curral) abrigou, ais ou menos um mês depois, outro espetáculo.
O sucesso das apresentações levou Nelson Gonçalves Marques, então proprietário da fazenda, a reunir a comunidade de Taquaraçu e propor a construção de uma casa de teatro, que seria erguida num terreno doado ao lado de sua residência, através de um mutirão. Embora com dificuldades de visão, o fazendeiro Nelson idealizou a planta da casa e coordenou a obra, pois era o único da região que conhecia um teatro. O pedreiro responsável foi Edgard Batista e os serviços de carpintaria ficaram a cargo de José Cândido, mais conhecido como Zé do Lobo.
O terceiro espetáculo teatral já foi apresentado na casa ainda não terminada do Teatro São Francisco. Em outubro de 1954, a mobilização comunitária garantiu a conclusão da obra.
Em 1955, o jovem Raimundo voltava à capital para estudar Direito, deixando um legado que frutificaria naquela comunidade onde atuou por poucos meses. Zé do Lobo, aquele que cuidara da carpintaria do teatro, apaixonado pelas artes cênicas, tornou-se uma espécie de patriarca do teatro. Outros moradores tornaram-se roteiristas e dramaturgos. O teatro passou a fazer parte do cotidiano da comunidade de Taquaraçu, numa mistura de talentos populares, dedicação e simplicidade.
O Teatro São Francisco é uma edificação simples e rústica, com capacidade para cerca de 150 pessoas. Possui bancos de madeira e uma leve inclinação que garante boa visibilidade para a plateia. É importante ressaltar que a casa de Nelson Gonçalves Marques, sede da antiga fazenda, sempre foi utilizada como ponto de apoio pelos artistas.
No final da década de 1990, o Teatro São Francisco foi devastado por uma enchente de grandes proporções, ficando desativado por um longo período. No ano de 2007, a Prefeitura Municipal de Santa Luzia promoveu a restauração da edificação, procurando manter suas características originais. As portas do teatro foram reabertas com um novo espetáculo.
Segundo pesquisas históricas, o Teatro de Taquaraçu é um dos únicos exemplares do mundo que apresenta características rurais.
Por meio do Decreto nº 2.131/2008, o Teatro São Francisco foi tombado em nível municipal, passando a integrar oficialmente o patrimônio cultural da cidade de Santa Luzia.

1 DINIZ, Inês Gonçalves. Aqui Nascemos. Belo Horizonte: Arnaldo Gomes de Almeida Filho Editor, 2005.
2 Memórias de Padre Raimundo Nonato da Costa, 24 de agosto de 2007.
3 O jovem Raimundo Nonato da Costa, ou Du, voltou a vida eclesiástica depois de quase 20 anos. Foi ordenado padre em 08 de dezembro de 1976 e ainda hoje atua na região.

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